Aula como acontecimento: a potência da prática docente
Em 2015 na Educação Infantil 2ª Etapa - Pré-escola do Instituto
Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ) foi vivenciado na escola um
projeto, intitulado Projeto Caraminholas. O mesmo foi inicialmente proposto
pelo coordenador pedagógico com o intuito de propor às professoras a realização
de oficinas variadas que envolvessem diferentes linguagens. Em um segundo
momento, assumimos no PIBID/ Pedagogia/Educação Infantil pensarmos, também, em
algumas oficinas.
Inspiradas na oficina oferecida pela professora Renata Alves, “Caraminholas
de Filosofia”, pensamos a oficina, “Caraminholas de Filosofia: Descobrindo
Palavras”. Esta escolha se deu por conta de uma situação vivida em sala de aula
com o Arthur. Todas as vezes que estávamos em sala ele sempre nos indagava
sobre diversos temas e com palavras diferentes que, para nós, eram sofisticadas
para uma criança de sua idade. Pensamos, então: será que ele sabe os
significados das palavras ditas? A curiosidade nos moveu para descobrir.
A partir desta experiência iremos relatar as dificuldades e prazeres de,
pela primeira vez em nossa carreira docente, planejarmos uma “aula” e vivê-la,
com as crianças.
O Projeto Caraminholas tinha por objetivo mover
a escola, tornar as professoras e auxiliares e, em um segundo momento,
as pibidianas, corpos presentes, pensantes e atuantes no currículo praticado na
escola. Tínhamos, como estudantes, autonomia para escolher a oficina, pois nos
desafiamos no projeto a exercitar a criatividade e a autoria. Com relação as
Caraminholas realizadas pelo PIBID, seguimos os objetivos do projeto da escola:
garantir o exercício da autonomia infantil de modo que pudessem escolher as oficinas que mais lhe apeteciam. Tínhamos também como objetivo planejar e
realizar oficinas e, sobretudo, vivenciar a relação entre o planejado e o
vivido no encontro com as crianças.
No momento da escolha das oficinas, uma surpresa desagradável: as
crianças não permaneciam na sala onde realizávamos a oficina. Tensão, tristeza,
desapontamento eram os sentimentos vivenciados, por nós. Inúmeros pensamentos
passavam pelas nossas cabeças: o que tínhamos feito de errado? A proposta não era
atrativa para as crianças?
Mesmo desanimadas, resolvemos nos mover, nos fazer úteis. Fomos visitar
as outras oficinas, pois podiam estar precisando de ajuda. Neste instante avistamos a turma 43 (crianças com 4 anos) brincando no Parquinho e,
rapidamente, tivemos uma ideia para dar vida à nossa oficina. Com folhas e
hidrocores sentamos no meio do parquinho esperando que as crianças sentissem
curiosidade em saber o que estávamos fazendo ali. As crianças ávidas para saber
o que estava acontecendo começaram a se juntar a nós. Pedimos, então, ajuda para
descobrirmos algumas palavras e seus significados. As crianças demonstravam
interesse em nos ajudar e ensinar. Muitas desenharam, alegando não saber
escrever a palavra que queriam. E assim foi indo... Enquanto escreviam e/ou
desenhavam conversávamos sobre as palavras e seus significados.
O Infantil 5 (crianças com 5 anos), também veio para o Parquinho. As
crianças estavam curiosas para saber o que acontecia naquela roda. Uma das crianças,
Pérola, nos perguntou se podia ir até à Casinha para escrever. E lá foi ela e
sua amiga Allana. Quando retornaram nos entregaram uma página com muitas
escritas. A página toda estava repleta de letras, uma do lado da outra, como
linhas de um livro. Ao indagarmos o que estava escrito, Pérola nos disse que havia
escrito um livro. Perguntei para que serve um livro e ela me respondeu que um
livro conta histórias. Continuo a indagar:
- Mas, histórias de quê?
- De princesa. Me disse Pérola!
Fomos avisadas, por outra pibidiana,
que as crianças estavam procurando pela oficina da sala que estávamos. Fomos
para a sala e as crianças foram chegando e pensando conosco sobre as palavras
do mundo!
Vivemos na prática o que Wanderley Geraldi, em seu livro, “A aula
como acontecimento”, nos diz: “(...) às vezes, nosso planejamento de aula não acontece,
as crianças não abraçam a ideia que sugerimos, e o mais esperto a se fazer é
seguir o fluxo, não se desesperar e deixar que a criança também ajude e diga o
que deseja fazer em aula, dando espaço a fim de instigar sua imaginação e poder
de escolha”.
Essa foi a aprendizagem vivida por nós, neste dia. Inicialmente não
sabíamos o que fazer. Achamos que tudo estava perdido, não havia dado certo o
que planejamos. Mas, ao parar e pensar sobre o que vivíamos, vimos que era
possível “seguir o fluxo e não se desesperar”. Nos abrimos à mudança e fomos
atravessadas por uma situação nova que provocou vivermos uma experiência.
Estarmos atentas ao acontecimento, como muitas vezes conversamos em nossas
rodas de estudo e reflexão sobre o vivido na escola, exigiu de nós abrirmo-nos
para ver, escutar e sentir a situação experienciada. Os aprendizados, podemos afirmar,
foram significativos para nossa vida como estudantes e professoras de crianças
em formação.
Ficou curioso(a)? Quer saber mais? Entre em contato conosco!
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